quinta-feira, 20 de junho de 2013

Nascendo a Primeira travessia de SKYLINE da Pedra do Bau




Essa Historia teve inicio no Rio de Janeiro onde faço meus estudos violonísticos.Há 3 anos atrás, um grande amigo me convidou para  ir a praia, para que me apresenta-se algo que eu iria adorar.Quando chegamos la,ele montou entre duas árvores uma especie de fita elástica bamba onde ele se equilibrava sobre ela.Uallllll.Quando vi aquilo sem saber como, mas logo vislumbrei como seria a possibilidade de caminhar sobre aquela fita a muitos metros do chão.No ato não havia outro lugar que viesse em minha mente se não fosse as belas formações rochosas que estão localizadas em minha terra natal(São Bento do Sapucaí).O Monumento natural estadual Pedra do Baú.http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedra_do_Ba%C3%BA




A partir dali começava o sonho e a batalha.Sem saber onde comprar os equipamentos,comecei a frequentar as praias e treinar seriamente todos os dias! e também ali treinando na fita eu fazia novos amigos.Ao retornar a São Bento, conheço um cara chamado Bito Meyer (Grande nome do Montanhismo brasileiro).Que ao ver a atitude do slackline na cidade nos apoiou e hoje também é um dos introdutores do esporte no Brasil.Vi ele vindo de bengala no passinho e quando ele chegou, soltou a bengala e começou a se equilibrar.Ao ver a cena fiquei surpreso e logo contei a ele do meu sonho de atravessar uma fita daquelas entre o Bauzinho e o Baú.E então,se transformou em um querido amigo, curtindo a inciativa, nos ensinando e supervisionando toda parte técnica e de segurança, o cara pelo qual sou muito feliz e grato pela amizade e presença. Aos Poucos as coisas foram se encaixando no lugar e lentamente os primeiros equipamentos foram aparecendo.Mas eles eram suficientes apenas para montar em distancias curtas e também montávamos de uma trave de um gol,até uma mine ramp de skate.http://www.youtube.com/watch?v=pL_b5VEIwO0&list=UUAUaoIooPzd_QfYO_EIcqIA&index=22



Campo escola no bairro do Quilombo


Campo escola no bairro do Quilombo


                                                                                                                                                                                               

Foram incontáveis quedas até conseguir ficar de pé e atravessar pela primeira vez o campo escola.Lembro-me que a sensação de estar a 8 metros de altura nessas primeiras experiências,  fazia meu corpo tremer, minhas mãos suarem frio e meus movimentos serem totalmente desengonçados pelo medo,pois como era muito no começo e nunca havia me relacionado com altura na vida, ainda não conhecia a resistência dos equipamentos e então o tempo todo enquanto eu praticava ficava aquela sensação interior de"-Jesussssss e se isso arrebenta comigo aqui em cima".Quando montamos pela primeira vez, levei 3 dias para conseguir me jogar da árvore, vazei de cabeça!, com o rosto de frente pro chão!. Vi ele se aproximando e desaproximando assim que o equipamento me puxou para cima novamente.Meu coração saiu pela boca e subi novamente na linha.Dai pra frente, se iniciou aquela longa seção de quedas e monstros, até que numa subida sem esperar acontece a primeira travessia.A sensação de altura e amplidão que dava sobre a minha  primeira linha alta  naquelas árvores era enorme e dava muito medo.Durante toda a travessia  as pernas bambeavam de adrenalina.Porem são dias em que jamais vão sair da memoria.Ali o sonho apenas começava e dessas experiências em diante, não havia como, por falta disso e daquilo,montar a linha todos os dias para treinar.Então descobri que em Campos do Jordão em uma pousada chamada Surya Pan, uma galera do Rio que futuramente viriam  serem meus amigos, montaram um centro de treinamento com varias slacklines montadas no chão, uma montada sobre a água e dois campos escolas de highline montado nos topos de araucárias.

Era tudo que eu precisava.Então fui conhecer o lugar,e me transformei amigo do Pessoal.Assim,por dois anos frequentei o centro de treinamento de duas a três vezes por semana e as vezes nos finais de semana também.Passava as tardes indo de um lado para o outro ouvindo os Rock  Progressivos e os eletrônicos, vendo o Baú de fundo só imaginando como seria alucinante andar naquele vazio do col(divisão entre uma pedra e outra).Aquele visual me inspirava muito.Treinava o dia todo e descia quase anoitecendo da linha.Ia pra casa morto de cansado e de cabeça feita,já esperando o próximo dia de voltar.Quando voltava para casa, os treinos continuavam mentalmente, estudando os movimento e técnicas .Esse sonho só se realizou pelo entendimento e auxilio de meus maiores amores do mundo!Tudo isso devo ao incentivo e ajuda dos meus pais.Após esses dois anos de malho no campo escola, numa ocasião no Rio de janeiro na praia conheço Gideão Mello(highliner brasileiro).Ficamos amigos e passamos a tarde fazendo slackline juntos. Aprendi muitas coisas em relação a  técnicas de caminhar em long.Disse a ele que já havia treinando no Slackpark que ele mesmo  havia montado e que precisava mandar meu primeiro highline de verdade e entender melhor como se montava.Com total atenção, ele topou e passamos um final de semana muito bacana no morro dos cabritos, na comunidade do Tabajara.Finalmente mandei meu primeiro Highline.




Realizado e feliz da vida,estava terminando de juntar meus equipamentos para poder ir pra minha terra e montar a primeira travessia de Highline da Pedra do Baú.Assim a aventura estava apenas começando.
Highline é uma técnica muita nova, que foi desenvolvida pelos escaladores dos anos 70 e 80 em busca de aprimorar o equilíbrio e de exercícios orbitais para desenvolverem melhor suas escaladas.No Brasil, essa pratica começou a e ser desenvolvida há 7 anos atrás,e ainda sofremos com precaridade em qualidade e diversidade de opções de equipamentos. Mas mesmo assim isso não é obstaculo que impeça a vontade de estar pendurado no Varal do abismo rsrs.Quando terminei de juntar todo meu primeiro equipamento, o problema foi arrumar parceria.Ninguém queria sair por ai atravessando penhascos.Assim não conseguindo,um dia acordei e resolvi embarcar nessa aventura só.Então peguei duas mochilas e comecei a preparar as coisas.Eu imaginava que sairia pra dois dias, que por fim se transformaram em 5 dias de bivac em solitário.Quando cheguei la,fui até o cume do Bauzinho arrastando aquela tralha toda e tinha tudo que eu precisava para dois dias e um terceiro de emergência.Ali eu carregava água,comida,equipamento de bivac,e toda ferramentaria necessária para conquistar.Era muito peso para eu carregar sozinho, assim resolvi acessar  pelo rapel.Cheguei até o local arrastando a tralha e eu e sem pensar comecei a preparar os equipamentos.Até porque se eu para-se para pensar voltaria para a casa rs.
momento em que havia acabado de chegar e começando a montar os equipamentos
De um lado para o outro, assim foi o dia todo.Bate ali,fura aqui,aperta ali,sobe, desce, desce, sobe,se dependura, se despendura,dava certo,dava errado,começava novamente.Ao menos nesse dia consegui deixa-la posicionada de um lado para o outro da pedra.A noite começou a vir e passaria pela minha primeira noite de bivac sozinho.Toda essa situação era muito nova para mim, por isso a mente acabava criando pensamentos de coisas inexistentes.Passei uma noite de vigília e qualquer barulho no mato,e por incrível que pareça até o barulho da roupa do corpo fazia a cabeça pensar as bobeiras rs.Mas tudo era interno e do lado de fora a paz reinava na noite.
primeira noite de bivac
O dia chega, a luz do sol volta a brilhar, tudo que era escuro e medonho se transforma em dia novamente.Parto para o segundo dia de empreitada,privilegiado com uma manha linda.Acordei cheio de fome e logo mandei pra dentro aquela tradicional refeição montanhística.O famoso miojo com sardinha.

Alimentado pela sardinha, começo mais um dia de trabalho.Nesse dia minha missão era esticar a linha.Na realidade isso é piada,pois jamais conseguiria esticar a linha da maneira que deveria sozinho.Mas consegui pelo menos deixar-la reta,o suficiente para que eu pude-se tentar algo.Esse dia foi o que mais me acabei, pois para conseguir tracionar as polias(equipamento que passando entre cordas esticam a high),precisaria de uns 4 ou 5 de mim para deixa-la no ponto.


Passei esse dia tracionando tracionando e tentando chegar o máximo que eu podia.Chega a uma determinada tração, em que você consegue milimetricamente apenas estica-la. Parei quando o esgotamento total bateu e o dia já estava indo embora.Do segundo para o terceiro dia ainda nem havia me dependurado nela.Sem saber se aquela loucura toda daria certo,cada vez mais os monstros inciais invadiam meus pensamentos e sozinho naquela situação e nos momentos ociosos, sentia todos os tipos de sensações ao mesmo tempo.Era uma confusão interna enorme .Lembro-me que sentia medo e ao mesmo tempo coragem.Sentia tristeza e ao mesmo tempo uma felicidade interna gigantesca.Sentia solidão mas tudo isso era muito inspirador e quando parava pra ponderar e ver a fundo todas essas sensações,algo me dizia ao mesmo tempo que estava tudo em plena paz e em plena ordem.Mas ainda não fazia ideia de como era estar de pé,sobre aquele vazio de 200 m de altura ,sobre o chão flutuante de 2,5cm de largura e 32 metros de corredor.Na terceira noite de bivac, já não aguentei mais ficar sozinho.Bito e Karina Filgueiras estavam no Bivac deles,e em busca de distração ,assim fui até meus amigos e passamos a noite rindo e contando as novidades.Aquilo me fez muito bem e assim que amanheceu o quarto dia, logo de manha parti do bivac e retornei a highline e com aquela positividade toda que reinava no Baú naqueles dias.Por fim consegui me dependurar pela primeira vez.


Passaram se algumas horas e ainda não tinha coragem para ficar de pé e tomar minha primeira queda.Olhei para o cume do Baú e ouvi um "IUUUUUUU" .Hahaaaaa.Eram meus amigos Bito e Karina vindo até a highline para me incentivarem e dividirem comigo esse momento.Esse dia foi o mais especial de minha vida,porque nesse dia com a presença deles, consegui tomar mais de 30 voos de cabeça,de lado e de barriga.Passamos o dia nos divertindo muito e eles assistindo de camarote as minhas desengonçadas quedas.Não sabíamos a reação dos equipamentos nas primeiras quedas, então Bito me dava segurança da base alem da minha alto-seg natural do high.
Eu e Bito me preparando para a seção de quedas

O dia foi muito legal e as horas passaram voando.Bito e Karina voltaram para seus aposentos e no dia seguinte continuaríamos os treinos.Feliz da vida e cansado encerramos mais um dia.No quinto dia recebemos a presença de um amigo escalador da região Márcio Santos que veio dar a força amiga com nos.Como no dia anterior renderam vacas e mais vacas(termo usado para quedas no esporte),não imaginávamos que a primeira entrada do dia seria a entrada para mandar.A fita estava muito bamba e no momento em que eu passei do meio da linha os caras seguraram com toda força pra que ela não balança-se tanto.Sob as instruções de Bito consegui manter a calma e meu corpo imediatamente respondia involuntariamente os seus comandos.Anestesiado com a emoção lentamente fui me aproximando do final da linha até que então a primeira travessia de skyline da Pedra do baú estava mandada.
Obrigado Deus
A emoção foi tremenda que não pude conter minhas lagrimas e nem deixar de passar mal  ao abraçar meus amigos

Descemos para o bivac tomar café e refiz a minha emoção.Descansei um pouco e então novamente la estava eu sobre a linha.Assim foi mandada e remandada a primeira travessia de skyline Sambentista. A via 4:20 32m long-200m high, entre as pedras Baú e Bauzinho..http://www.youtube.com/watch?v=anPHYlEN6FI(momento da segunda travessia).



Ofereço esse momento a Deus, a meus pais que sempre me incentivaram a batalhar pelo esporte,Ao Bito Meyer e Karina Filgueiras que sem palavras!,aos meus amigos que sempre acreditaram nesse sonho e São Bento do Sapucaí minha linda terra natal.Gratidão enorme pois sem vocês esse sonho não teria se transformado em realidade.

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