Agora Sim.
Serra Fina em Solitário em 3 dias.
Sempre tive o sonho de realizar essa travessia espiritual,
lúdica e mágica que se chama Serra Fina, neste estilo esportivo conhecido solitário,
que por estar sozinho durante a ação a responsabilidade com sua segurança e em
suas decisões em cada ato precisam ser constantemente ponderadas, pois as
variáveis quando se esta sozinho e longe de tudo, são muitas vezes
desconfortáveis. A ideia não é se expor aos riscos do jogo, porem eles estão
sempre ali. Também por vontade própria, e por admirar muito quem me ensinou
isso com tanta maestria, pois esta influência intima e direta com a montanha
não viria de maneira nobre se não fosse a influencia correta e de verdade que
sempre pude ter, que é a de campear pelas montanhas de maneira ética, honesta,
esportiva vibration e limpa . A majestosa montanha se encontra na primeira
vertente de montanhas de frente com o vale do paraíba, entre o parque nacional
do Itatiaia e o complexo de Marins e Ita guare, englobando na extensão de seu
corpo os estados do RJ,SP e MG. Sendo considerada entre as raras áreas mundiais
com biodiversidade insubstituível. Ou seja, ela não se regenera se algum dano
acontece tanto com sua fauna, como flora. Este fato comprova que literalmente é
um lugar único e que realmente é preciso proteger com muito zelo , pois, além
de grande geradora de água, entre a infinidade de plantas e bichos que reinam
dentro daquele mundo ,a beleza e a energia de lá é impossível se representar verdadeiramente em fotos e
vídeos. Você só poderá ver e sentir lá! Ponto culminante da serra da
Mantiqueira com a 2797 m de altitude se chama Pedra da Mina onde se localiza
nascente do Rio Verde. São mais de 20 cumes, entre cristas e vales de pequenos
bambuzinhos, bonsais, pedras e de capins naturais em predominância durante toda
travessia. No mês de junho, no primeiro frio, me desloquei pra serra para uma
tentativa, pois nunca vamos com certeza de vamos conseguir, mas com certeza de
que sabemos jogar. Porem não obtive êxito por mal tempo. Foi bem em uma semana onde
acontecia um avanço vento muito forte vindo do sul com uma massa gigantesca q
tomaria conta de todos os dias da montanha se tornando impraticável o jogo. Se
o tempo se agrava durante a ação tudo bem, mas, já começar com pancada na
cabeça é desconfortável e muitas vezes arriscado. Como aprendi com meu mestre,
o que nos machuca é o erro de avaliação técnica de cada ação praticada e também
o fato de que é necessário saber até a hora e onde se pode jogar, pois para um
processo ser concluído com sucesso, segurança e consciência, é preciso se estar inserido em um conjunto
harmonioso entre a ação e seu conhecimento técnico, pois do contrario é saber
aceitar que não era o momento, seja por questões naturais ou de algo que talvez
não esteja no seu alcance AINDA, mas que no futuro te espera, pois o
conhecimento mais benéfico para nós é o poder da visão previa, da antecipação. Decidi
abortar por segurança para tentar numa próxima oportunidade. Pois havia uma
camada de neblina muito densa com ventos acima de 60 por hora me
desiquilibrando a ponto deu tomar uns dois tombos e sem conseguir enxergar se
quer um palmo a minha frente, mas mesmo assim cheguei no capim amarelo e
resolvi a descer no mesmo dia, com vento vento lateral e neblina na cuca. Perna
pra quem tem, vazei de lá hahah. Bivaquei as duas noites únicas na toca do lobo
. Porem essa semana chegou novamente a oportunidade e fui com muita alegria,
gosto de temor por respeito. A serra é um lugar especial, onde não se deveria
existir competições, pois é um lugar pra se meditar e entrar em harmonia com a
alma, para se sentir vivo, buscar sensações opostas aos prazeres comuns, que
oque pra uns seria tortura e maluquice e inútil que ai também concordo porem
como um predicado pra outros é um percebimento, uma possibilidade, porem isso é
visão pessoal e de montanhista puritanos, pois o que nos leva para lá está
longe de vivencias cotidianas e tradicionais. Confesso que ir após uma
temporada de julho significa se deparar com lixo e trilhas sacudidas pelas
competições, onde a galera passa igual a um bando de cavalos e além deixam um
monte papel higiênico de usos fisiológicos. Faz bem em a cidade se organizar e
colocar uma placa de entrada bem direta escrita ( Leve seu cocô pra casa, se
não der enterre e se organize melhor da próxima vez). Já pensou mês de julho?
férias? como fica?ECOUUT. Coitada da montanha.
Desta vez meus amigos Juliano e Samuca me trouxeram pra
serra. Me deixaram enfrente ao abrigo Serra Fina eram 1:00 da manha. Este dia
acordei tarde. Eram 7:30 quando levantei do acampamento para começar andar por
volta de 8:30.Tempo bom ensolarado, porem muito vento de NW me empurrando na
crista. Cheguei no cume 5 horas depois. Presenteado pelo primeiro cume passei
ali um tempo da tarde e na sequencia continuei até o trecho denominado Serra
Fina, onde montei meu bivaque entre bambuzinhos na crista com vento comendo a
noite toda. Quando acordei as 5 da matina estava frio, não pelo tempo mas sim
pelo vento. Das mãos congelarem. Divertido. Neste dia também ventava muito
porem já com uma direção cravada de W e nuvens lenticulares e cirrus, indicando
uma possível mudança de tempo. No segundo dia bati no cume da Mina, comemorei
com minhas diversões e segui para dormir no vale do Ruá, onde cheguei por volta
de 15:00 horas e montei um bivaque maravilhoso, protegido do vento em um chão
de nascente muito macio onde dormi com uma planta nativa ao meu lado que
cheirava poejo. Estar na serra fina é praticamente estar dentro de um sonho, ou
um pesadelo se você não gostar de solidão, cansaço, frio, calor, vento, chuva
neblina, sobe e desce todos os dias o dia todo hahah. A serra não da tréguas em
sua técnica imposta pela natureza, pois ela começa difícil e termina mais. Apos
dormir 10 horas consecutivas neste vale encantado acordo as 4 da manha com a pressão atm baixando violentamente.
Neste momento o vento morre e já não via mais estrelas e um ar quente
predominava o vale. Só pensei –vou tomar na cabeça hahahah. Quando você decidi
passar um tempo consigo próprio em situações de roubada a responsabilidade de
se proteger constantemente vem a tona. Neste dia as 6 da manha já estava
andando e meu objetivo era o cume dos 3 estados, RJ, SP, MG.O tempo todo no
vale do paraíba uma massa muito densa tentava avançar, porem o frio e um vento
oposto ao vale manteve ela até o meio dia do lado de baixo. Nessa eu já havia subido
os 3 estados numa eterna trilha de bambuzinhos que davam tapa no rosto (O
LASQUEIRA DE TREICHO), onde se mistura todas vegetações, pedra, capim e bambus
em trilhas muito curtas. Constantemente por cristas e com muito vento forte.
Chegando 3 horas e 20 minutos mais tarde nos 3 estados ainda estou muito estaminado.
A partir deste momento aqueceu e toda neblina pesada subiu e a partir dai
permaneceu o resto do dia. Sempre quando cumpria meu objetivo do dia ia
seguindo. Estava com muita vontade de continuar até onde a serra me permitir me
localizar .Nessa fui indo no meio do branco, com vento e garoa forte. Encharcado
de agua chego no cume do Alto dos Ivos sem perceber. Muito mal tempo, juntou
minha estaminacão excessiva, com cume impraticável pra acampamento, continuei
trocando passos. Horas penso, horas não. Já não sinto o frio, a chuva, a
neblina. Meu cérebro simplesmente procede trocando os passos. Sem perceber
entrei na mata e ai já não consegui mais parar de andar. Neste dia completei 12
horas de caminhada sem parar praticamente chegando na fazenda do Frances a tardezinha e encontrando meu resgate na
serra do Itatiaia. Meus pais vieram me buscar e com muita alegria voltei pra
casa cansado, com sorriso no rosto. Acredito que me torno o mais jovem
brasileiro a realizar a serra desta forma, porem não vejo como predicado, e sim
uma pena, pois o medo existe dentro de você. La não existe nada que vá te
incomodar ou te amedrontar, nem no escuro, nem no claro. Fazer isso é simples.
Basta acordar, agir e fazer acontecer, ter vontade, disposição e atitude. Pois
confesso que foi uma experiência única e encantadora, pois, este tipo de
vivencia intelectual e esportiva com o lado de fora deveria ser cultural, por
que, nos faz nos entendermos como
espécie que somos no nosso modo mais primitivo de forma futurista do presente
momento, em relação aos homens antigos. Pois estar do lado de fora ,sua
morfologia humana e a do planeta são
enxergadas por si próprio com olhos mais poéticos. Basta permitir-se.