sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Serra Fina em Solitario em 3 Dias.

Agora Sim.
Serra Fina em Solitário em 3 dias.
Sempre tive o sonho de realizar essa travessia espiritual, lúdica e mágica que se chama Serra Fina, neste estilo esportivo conhecido solitário, que por estar sozinho durante a ação a responsabilidade com sua segurança e em suas decisões em cada ato precisam ser constantemente ponderadas, pois as variáveis quando se esta sozinho e longe de tudo, são muitas vezes desconfortáveis. A ideia não é se expor aos riscos do jogo, porem eles estão sempre ali. Também por vontade própria, e por admirar muito quem me ensinou isso com tanta maestria, pois esta influência intima e direta com a montanha não viria de maneira nobre se não fosse a influencia correta e de verdade que sempre pude ter, que é a de campear pelas montanhas de maneira ética, honesta, esportiva vibration e limpa . A majestosa montanha se encontra na primeira vertente de montanhas de frente com o vale do paraíba, entre o parque nacional do Itatiaia e o complexo de Marins e Ita guare, englobando na extensão de seu corpo os estados do RJ,SP e MG. Sendo considerada entre as raras áreas mundiais com biodiversidade insubstituível. Ou seja, ela não se regenera se algum dano acontece tanto com sua fauna, como flora. Este fato comprova que literalmente é um lugar único e que realmente é preciso proteger com muito zelo , pois, além de grande geradora de água, entre a infinidade de plantas e bichos que reinam dentro daquele mundo ,a beleza e a energia de lá é impossível  se representar verdadeiramente em fotos e vídeos. Você só poderá ver e sentir lá! Ponto culminante da serra da Mantiqueira com a 2797 m de altitude se chama Pedra da Mina onde se localiza nascente do Rio Verde. São mais de 20 cumes, entre cristas e vales de pequenos bambuzinhos, bonsais, pedras e de capins naturais em predominância durante toda travessia. No mês de junho, no primeiro frio, me desloquei pra serra para uma tentativa, pois nunca vamos com certeza de vamos conseguir, mas com certeza de que sabemos jogar. Porem não obtive êxito  por mal tempo. Foi bem em uma semana onde acontecia um avanço vento muito forte vindo do sul com uma massa gigantesca q tomaria conta de todos os dias da montanha se tornando impraticável o jogo. Se o tempo se agrava durante a ação tudo bem, mas, já começar com pancada na cabeça é desconfortável e muitas vezes arriscado. Como aprendi com meu mestre, o que nos machuca é o erro de avaliação técnica de cada ação praticada e também o fato de que é necessário saber até a hora e onde se pode jogar, pois para um processo ser concluído com sucesso, segurança e consciência,  é preciso se estar inserido em um conjunto harmonioso entre a ação e seu conhecimento técnico, pois do contrario é saber aceitar que não era o momento, seja por questões naturais ou de algo que talvez não esteja no seu alcance AINDA, mas que no futuro te espera, pois o conhecimento mais benéfico para nós é o poder da visão previa, da antecipação. Decidi abortar por segurança para tentar numa próxima oportunidade. Pois havia uma camada de neblina muito densa com ventos acima de 60 por hora me desiquilibrando a ponto deu tomar uns dois tombos e sem conseguir enxergar se quer um palmo a minha frente, mas mesmo assim cheguei no capim amarelo e resolvi a descer no mesmo dia, com vento vento lateral e neblina na cuca. Perna pra quem tem, vazei de lá hahah. Bivaquei as duas noites únicas na toca do lobo . Porem essa semana chegou novamente a oportunidade e fui com muita alegria, gosto de temor por respeito. A serra é um lugar especial, onde não se deveria existir competições, pois é um lugar pra se meditar e entrar em harmonia com a alma, para se sentir vivo, buscar sensações opostas aos prazeres comuns, que oque pra uns seria tortura e maluquice e inútil que ai também concordo porem como um predicado pra outros é um percebimento, uma possibilidade, porem isso é visão pessoal e de montanhista puritanos, pois o que nos leva para lá está longe de vivencias cotidianas e tradicionais. Confesso que ir após uma temporada de julho significa se deparar com lixo e trilhas sacudidas pelas competições, onde a galera passa igual a um bando de cavalos e além deixam um monte papel higiênico de usos fisiológicos. Faz bem em a cidade se organizar e colocar uma placa de entrada bem direta escrita ( Leve seu cocô pra casa, se não der enterre e se organize melhor da próxima vez). Já pensou mês de julho? férias? como fica?ECOUUT. Coitada da montanha.

Desta vez meus amigos Juliano e Samuca me trouxeram pra serra. Me deixaram enfrente ao abrigo Serra Fina eram 1:00 da manha. Este dia acordei tarde. Eram 7:30 quando levantei do acampamento para começar andar por volta de 8:30.Tempo bom ensolarado, porem muito vento de NW me empurrando na crista. Cheguei no cume 5 horas depois. Presenteado pelo primeiro cume passei ali um tempo da tarde e na sequencia continuei até o trecho denominado Serra Fina, onde montei meu bivaque entre bambuzinhos na crista com vento comendo a noite toda. Quando acordei as 5 da matina estava frio, não pelo tempo mas sim pelo vento. Das mãos congelarem. Divertido. Neste dia também ventava muito porem já com uma direção cravada de W e nuvens lenticulares e cirrus, indicando uma possível mudança de tempo. No segundo dia bati no cume da Mina, comemorei com minhas diversões e segui para dormir no vale do Ruá, onde cheguei por volta de 15:00 horas e montei um bivaque maravilhoso, protegido do vento em um chão de nascente muito macio onde dormi com uma planta nativa ao meu lado que cheirava poejo. Estar na serra fina é praticamente estar dentro de um sonho, ou um pesadelo se você não gostar de solidão, cansaço, frio, calor, vento, chuva neblina, sobe e desce todos os dias o dia todo hahah. A serra não da tréguas em sua técnica imposta pela natureza, pois ela começa difícil e termina mais. Apos dormir 10 horas consecutivas neste vale encantado acordo as 4 da manha  com a pressão atm baixando violentamente. Neste momento o vento morre e já não via mais estrelas e um ar quente predominava o vale. Só pensei –vou tomar na cabeça hahahah. Quando você decidi passar um tempo consigo próprio em situações de roubada a responsabilidade de se proteger constantemente vem a tona. Neste dia as 6 da manha já estava andando e meu objetivo era o cume dos 3 estados, RJ, SP, MG.O tempo todo no vale do paraíba uma massa muito densa tentava avançar, porem o frio e um vento oposto ao vale manteve ela até o meio dia do lado de baixo. Nessa eu já havia subido os 3 estados numa eterna trilha de bambuzinhos que davam tapa no rosto (O LASQUEIRA DE TREICHO), onde se mistura todas vegetações, pedra, capim e bambus em trilhas muito curtas. Constantemente por cristas e com muito vento forte. Chegando 3 horas e 20 minutos mais tarde nos 3 estados ainda estou muito estaminado. A partir deste momento aqueceu e toda neblina pesada subiu e a partir dai permaneceu o resto do dia. Sempre quando cumpria meu objetivo do dia ia seguindo. Estava com muita vontade de continuar até onde a serra me permitir me localizar .Nessa fui indo no meio do branco, com vento e garoa forte. Encharcado de agua chego no cume do Alto dos Ivos sem perceber. Muito mal tempo, juntou minha estaminacão excessiva, com cume impraticável pra acampamento, continuei trocando passos. Horas penso, horas não. Já não sinto o frio, a chuva, a neblina. Meu cérebro simplesmente procede trocando os passos. Sem perceber entrei na mata e ai já não consegui mais parar de andar. Neste dia completei 12 horas de caminhada sem parar praticamente chegando na fazenda do Frances  a tardezinha e encontrando meu resgate na serra do Itatiaia. Meus pais vieram me buscar e com muita alegria voltei pra casa cansado, com sorriso no rosto. Acredito que me torno o mais jovem brasileiro a realizar a serra desta forma, porem não vejo como predicado, e sim uma pena, pois o medo existe dentro de você. La não existe nada que vá te incomodar ou te amedrontar, nem no escuro, nem no claro. Fazer isso é simples. Basta acordar, agir e fazer acontecer, ter vontade, disposição e atitude. Pois confesso que foi uma experiência única e encantadora, pois, este tipo de vivencia intelectual e esportiva com o lado de fora deveria ser cultural, por que,  nos faz nos entendermos como espécie que somos no nosso modo mais primitivo de forma futurista do presente momento, em relação aos homens antigos. Pois estar do lado de fora ,sua morfologia humana e a do planeta  são enxergadas por si próprio com olhos mais poéticos. Basta permitir-se.